Vladimir Komarov, o primeiro homem a morrer numa missão espacial.

8bf8434fd8b911a097090080b034a99f — Vladimir Komarov com a esposa Valentina e sua filha Ira. Imagem: Tass

Vladimir Komarov (1927-1967) nasceu em Moscou – URSS, ele foi o primeiro soviético a ir ao espaço duas vezes e o primeiro homem a morrer numa missão espacial.

A missão Soyuz 1 a qual Komarov participou era um desastre anunciado. Komarov sabia que a cápsula não era segura para um lançamento ao espaço. Mas o lançamento era uma imposição do líder comunista, Leonid Brezhnev. Ele exigia claramente de todos os técnicos e cientistas que a missão precisava sair de qualquer maneira como questão de honra e integridade da Rússia.

O líder soviético decidiu que deveria ocorrer um encontro entre duas naves no espaço, algo extraordinário para a época, em comemoração ao 50º aniversário da Revolução Russa. Brezhnev deixou claro que isso teria que ocorrer.

O plano era que Komarov fosse lançado em uma cápsula. No dia seguinte, outros dois cosmonautas iriam em outro veículo e as duas naves se encontrariam no espaço. Komarov passaria de uma para outra, trocando de lugar com um colega.

Meses antes do lançamento da missão histórica, cientistas e técnicos descobriram mais de duas dúzias de grandes falhas na espaçonave, falhas que poderiam inviabilizar toda a missão. Mas ninguém teve a coragem de dizer ao líder supremo sobre seu fracasso em cumprir o prazo, simplesmente porque ninguém realmente queria acabar em campos de prisioneiros na Sibéria ou simplesmente baleado na cabeça por falhar na missão.

Algumas semanas antes do lançamento da Soyuz 1, Komarov expressou seus sentimentos mais profundos a um de seus amigos, um oficial rebaixado da KGB, Venyamin Russayev. Com lágrimas nos olhos, disse que a missão para qual vinha se preparando estava condenada e que ele não a completaria. Apesar do perigo óbvio, Komarov estava disposto a embarcar na viagem, não para sua glória ou para o avanço da ciência de seu país, mas por seu melhor amigo Yuri Gagarin – o primeiro homem a ir ao espaço, em 1961. Pois se Komarov se recusasse a ir, seu sucessor imediato seria Yuri Gagarin, e ele não suportaria a morte do seu amigo mais querido. Vladimir chegou a contar ao amigo Russayev: “ele vai morrer em vez de mim, nós temos que cuidar dele” se referindo a Yuri Gagarin.

Vladimir Komarov estava entre os melhores amigos de Gagarin. Aqui eles são vistos caçando juntos

Seu amigo Yuri Gagarin que já era conhecido na época como o primeiro homem a ir ao espaço anos antes, e outros técnicos inspecionaram a Soyuz 1 e descobriram 203 problemas estruturais. Gagarin recomendou que a missão fosse adiada. Mas ninguém teve coragem de contar a Brezhnev e sair como o mensageiro das más notícias.

O lançamento da Soyuz 1, em 23 de abril de 1967, foi saudado na Rússia como uma vitória sobre os EUA e seus aliados, uma vez que coincidiu com os 50 anos da celebração da Revolução Comunista Russa. Todas as atenções estavam voltadas para este evento, que era crucial para o governante Leonid Brezhnev.

Imediatamente após o lançamento em 23 de abril de 1967, ficou claro que havia problemas significativos com a Soyuz 1. Seus painéis solares não foram totalmente acionados, privando Komarov do controle total da espaçonave, enquanto os motores também encontravam problemas. O lançamento da Soyuz-2 foi cancelado e foi ordenado o regresso da Soyuz-1. Após 18 órbitas da Terra, Komarov tentou uma reentrada manual da espaçonave usando o Sol como uma ferramenta de orientação, mas, quando rasgou a atmosfera, tanto o pára-quedas principal quanto o drogue falharam. Komarov ficou indefeso dentro da cápsula e, na madrugada de 24 de abril de 1967, a Soyuz 1 pousou perto da fronteira entre a Rússia e o Cazaquistão e instantaneamente matou seu tripulante solitário.

Enquanto mergulhava para a morte no seu retorno à Terra, Komarov continuou xingando seus superiores e técnicos por forçá-lo a embarcar em uma missão que muitos sabiam que estava fadada ao fracasso.

Há relatos de que os norte-americanos escutaram os gritos de raiva de Komarov no dia do desastre. Os detalhes estão na obra “Starman The Truth behind the Legend of Yuri Gagarin” (Homem das Estrelas: A Verdade por Trás da Lenda de Yuri Gararin), de Piers Bizony e Jamie Doran. O livro se baseia nos relatos do analista de segurança nacional Perry Fellwock, que atesta que o posto norte-americano de escuta na Turquia ouviu os gritos de raiva de Komarov no dia do desastre da missão Soyuz 1, em 24 de abril de 1967.

Os restos queimados da nave Soyuz 1 soviética quando caiu na Terra após o pára-quedas não se abrir, em 23 de abril de 1967.

Tudo o que sobrou de Vladimir Komarov foi um osso do calcanhar e uma massa de restos calcinados. Mesmo assim, o funeral de Estado foi de caixão aberto (como se pode ver pela foto).

cosmonauta_komarov_01 — Restos mortais de Vladimir Komarov em caixão aberto (Fonte da imagem: NPR)

7d7508fd53813f806716e4a870d48b71 — Valentina Komarov se ajoelha para beijar uma foto de seu marido, o cosmonauta Vladimir Komarov.

Hoje, há um memorial na região do impacto, com um busto do astronauta e um pequeno parque ao redor. Esse foi o primeiro acidente ― de um voo espacial ― registrado pela história mundial.

9559944178141917 — Memorial erguido em homenagem a Vladimir Komarov (Fonte da imagem: Panoramio/Google Maps)

No dia 01 de agosto de 1971, os astronautas da missão Apollo 15, David R. Scott e James Irwin B, colocaram essa pequena placa e uma pequena estatueta de alumínio sobre a superfície da Lua. A placa contém quatorze nomes (de astronautas e cosmonautas) que morreram na busca da exploração espacial, inclusive Vladimir Komarov.

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Os homenageados são listados em ordem alfabética: Charles A. Bassett II, Pavel I. Belyayev, Roger B. Chaffee, Georgi Dobrovolsky, Theodore C. Freeman, Yuri Gagarin A., Edward G. Givens Jr., Virgil I. Grissom, Vladimir Komarov, Viktor Patsayev, Elliot M. Veja Jr., Vladislav Volkov, Edward H. White II, e Clifton C. Williams Jr.

Yuri Gagarin, que certamente não se recuperou da perda do melhor amigo, morreu no ano seguinte, em um acidente de avião, em 27 de março de 1968.

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